Consagrada em todo o mundo, ela
enfrenta o dilema de criar a filha sozinha e ter de enfrentar na justiça uma
ação movida pelo ex-companheiro, que pede reconhecimento da paternidade. Ser
mãe afetou muitos sentidos, com ganhos claros para a música.
“Hoje posso confiar um pouco mais no que sinto”. É com essa frase que
Julieta Venegas começar o novo disco, Los Momentos, gravado inteiramente em um
estúdio próprio e quase sem se importar com os arroubos da crítica. Mas não é
só isso: a iniciativa de estrear o espaço aconteceu em um momento especial,
durante a última turnê internacional, quando descobriu que estava grávida.
A filha Simona nasceu a 8 de setembro de 2010 e desde então Julieta
vive momentos difíceis, como o da recente contestação do músico argentino
Rodrigo García Prieto, que assegura ser o pai da menina e ingressou com uma
ação na justiça da família do seu país, pedindo o reconhecimento da
paternidade.
“Foi muito importante porque escrevi e gravei no mesmo lugar, que
considero minha segunda casa (...) Algo mudou em mim, algo me pedia outras
sonoridades, outras histórias, outra direção. E necessitava me comunicar, que é
uma grande razão para escrever: o desabafo”, expõe.
O processo gerou um grande imbróglio, já que a cantora é porta-voz da
UNICEF e a privação do sobrenome do pai no registro de Simona, além da recusa
de deixá-la passar temporadas na Argentina, se contrapunha aos princípios da
entidade que defende os direitos das
crianças.
No campo artístico, porém, a maternidade lhe abriu uma nova comporta
de experiências e afetou totalmente a criatividade dessa artista que já vendeu
mais de sete milhões de discos em todo o mundo e arrebatou seis prêmios Grammy,
sendo um internacional e cinco latinos.
Apesar dos conflitos, Julieta não esconde sequer sua faceta mais
frágil, já revelada em composições de outrora. A terceira faixa do álbum “Otra
Cosa” tem essa confissão: “Debaixo da minha
língua se escondem as palavras que revelam tudo de mim. Poderia te dizer das
minhas inseguranças e do quão pequena chego a me sentir.”
As novas letras tem outro tom, de revolta. Mas a combativa cantora
nascida nos Estados Unidos pelo sonho dos pais mexicanos, que atravessaram a
fronteira, continua a fazer uma linha pop particular, como o infinito de Marisa
Monte, sua principal parceira no Brasil. É elegante a despeito das muitas
experimentações com riffs de sintetizadores, batidas eletrônicas e acordeons,
instrumentos de sopro e a voz lamentosa que deixa clara sua entrega. Exposição
essa que os brasileiros tem o privilégio de ver de perto entre esse maio de
junho.
Foto: Gustavo Dimario/ cedida
*Matéria publicada na revista LivingFor. Texto e fotos contém direitos autorais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário