sábado, 24 de maio de 2008

Desencontros e re-encontros

Era pra ser mais um encontro furtivo, apenas sexo. Por isso, vestiu-se de um de seus personagens. Fantasia que servia de subterfúgio na hora da conquista. Largava mão de ser mais natural e sedutor para barbarizar até sendo julgado pelos olhares mais libertos. Fatalmente deixaria rastro e gosto de bis. No outro, mais.
Ela foi vista ao longe, caminhando no sentido contrário da direção do seu carro. Tinha um estilo juvenil de se movimentar e vestir. Blusa listrada, moderadamente divertida, e jeans. Exalava um frescor que tinha no fundo os tons adocicados de baunilha e crepe de limão. Não poderia ser do tipo que fica por cima e deixa os olhos entreabertos enquanto geme.
Percebendo os faróis, voltou-se para ele e caminhou. Passos ligeiros. Parou adiante. Esperou abrir a janela do carro que tinha um fumê escuro. Vendo que não houve manifestação, segurou bem a maçaneta e levantou. Acabara de ser destravada. Sentou-se. Ao lado, nenhum gesto desejando boas vindas.
Ele estava verdadeiramente incomodado com sua presença. Com sua saúde e vigor. Pensou várias vezes em milésimos de segundo em gritar, expulsando-a. Conteve-se achando que poderia seduzir a jovem, aproveitar-se da sua libido e aumentar a coleção de conquistas.
A garota viajada escolheu um bar de paredes alaranjadas, com dardos, sinuca e uma mesa de poker. Nada mais sentar, pediu uma Stella Artois e propôs um brinde singelo: saúde! E seguiu primeiramente perguntando mais que falando de si. Cercava o território e seguia os passos daquele discurso com ares de emancipação. Sabia atrair as atenções e chegou a ser cortejada por um par de jogadores. Provocou. Mas reações não foram externadas.
A conversa foi regada por mais três garrafas. Depois de duas horas as portas começaram a ser baixadas. A ele faltava coragem de sair dali para um território mais privado, pago por hora de permanência. Entraram outra vez no carro, que girou em círculos pela cidade antes de parar de frente para a portaria do seu prédio, onde aconteceu um beijo clandestino.
Ele rolou na cama espaçosa. Dormiu pouco. E ligou bem cedo. Propôs um novo encontro. Sem armas, sem enfeites. Estava envolvido e tinha ganas de tomar dois tragos de vodka. Sendo ele, só assim se sentiria encorajado para deitar com ela. E o fez. Com corpos postos na horizontal e orvalhados, riram e sujaram os lençóis.
Ela foi deixada no portão. Não o beijou, nem ligou depois. E, tratado como um corpo, ele sentiu-se vitorioso pela primeira vez. Descobriu que o desejo maior de um corpo é tão somente ser abraçado.

Um comentário:

glaucia reboucas disse...

deliciosamente.

gláucia