segunda-feira, 8 de junho de 2009

O incompreendido

Manhã de domingo. Quase madrugada. O ponteiro menor acaba de alcançar o seis. Estou na cama, do lado direito que é o meu. Dormi outra vez, penso imediatamente. Devia ter saído pra uma balada dessas para garotos perdidos. Agora é tarde. Ou, cedo demais. Que foda! Poderia ficar inerte até que o resto da cidade acorde. Do lado de fora há sol. Paisagem muito diferente da dos últimos dias. Posso aproveitar e caminhar na praia. Mas só encontraria a turma da terceira idade e bêbados. Rolo até a ponta esquerda. Está fria e isso me agrada. Meu peito pela primeira vez sentia um frescor decente. Jogo a perna por cima de um travesseiro solto. Um, dois, três movimentos e me sinto saciado. Paro, espero. Cinco minutos e a sensação térmica é outra e me afunda uma angústia sem freio. O telefone está ao lado. Três chamadas perdidas. Devia mesmo estar muito cansado. Esperar causa exaustão. Nenhuma das que eu atenderia. Ainda são seis e quarto. Preciso soltar esse aparelho e levantar pra desligar outros. A luminária está acesa e o som marca no visor digital o número 16. Posso memorizar e usar pra o dia em que resolva começar a fazer apostas. Talvez não seja esse meu número de sorte. Lembrei: é um álbum antigo do Emílio Santiago que escondo numa caixa, longe da estante onde ficam meus preferidos. Que foda! Definitivamente os jogos de azar não são pra mim. Fecho os olhos. Revivo que dias atrás grudou a coxa no meu pau pra comprovar o quanto o deixa duro. Volto ao estado só de pensar no depois. Eu por cima, sua coluna em curva sinuosa, as pernas bem afastadas e a boca apertando no lençol amarrotado. Vontade de ligar fazendo o convite. Mas o que digo primeiro? Caí da cama? Pensei em você a noite inteira? Sei que ainda é cedo... Discando. Que foda! Ainda nem sei como começar. Chamando. Chamando. Claro que não atenderia. Não se liga antes das sete pra ninguém. Nem que se tenha intimidade por demais. Preciso aprender a trabalhar melhor essa ansiedade. Apertar os dentes e conseguir conter um ataque de claustrofobia. Essa é minha meta. Faz mais de uma hora que estou acordado. Será que os velhinhos me achariam esnobe se fosse correr na praia? Falta ânimo até pra levantar. Nem sempre se faz apenas o que se quer, diria minha mãe. O espelho podia mentir de quando em vez. Escovo os dentes na esperança de que algo melhore. Nada. Lavo o rosto. Também não adianta. Música. Preciso desenvolver atividades. Dentro de casa é difícil ser criativo. Sem saída, lavar a louça de ontem. Jantar cretino aquele que passei uma hora na condição de expectante e tive de comer o pene limão mais ácido do que qualquer piada com moral tipo: se colhe o que planta! Foi rápido. Melhor limpar o sofá da varada. E mudar o disco. Regar as plantas. São nove. Uma eu tive de pôr pra fora. Estava doente e os remédios não faziam efeito. Que foda! Ainda está no hall do elevador de serviço. Três rodelas de abacaxi. Lembro do desjejum juntos. Quiçá sinta saudade da minha boca, do meu pescoço, das minhas torradas. Hora do banho. Será que ponho uma sunga depois?

Isso tudo só vem acontecendo desde que tentei explicar que preciso de mais atenção. Daqui a pouco completa uma semana a espera por resposta. Estou como um náufrago. Mas com a certeza de que no próximo sábado à noite estarei longe daqui. E no início da semana abafarei todos esses silêncios.

2 comentários:

Mme. S. disse...

gosto quiçó quando tu sai desse jejum e escreve nessa porra desse blog, visse? bicho querido!

Unknown disse...

Intimista, porém explícito!...cada palavra traduzindo o que de certa forma pretende não revelar...É o absurdo sendo desmistificado em algo profano e sublime...é o lado esquerdo e frio da cama que gera a dúvida se o lado direito é aquele de quem contempla a cama ou quem deita-se nela; mudando totalmente o caráter desta geografia...É um tempo que pesa e não passa, é um sábado redentor a uma segunda sufocante...É o desejo de se sair limpo, mesmo quando ainda se sente o cheiro das flores e o espetar do espinho!