Os números pares me parecem mais confiáveis. Se não for assim sempre um fica isolado ou divide as contas só pra complicar. Talvez essa teoria tenha algum reflexo no penar de ficar só. Gosto de grupo, de bando, só que devidamente equilibrado.
Isso pode até já ter virado um transtorno na minha rotina. Quem ainda não conhece essa mania, de quando em vez ri ou comenta sobre minha aflição ao ver o volume da TV em um número ímpar.
Em outras fases já foi pior. Cheguei a contar o número de discos, de livros, a cutelaria e mais um par de coisas. Morar sozinho e ter tantas tranqueiras e cômodos pra enfiá-las me fez relaxar um pouco, mas continuo sem pisar no rejunte do piso. Assim, sigo andando de quadrado em quadrado.
Das esquisitices guardo ainda a de colocar as almofadas enfileiradas no sofá. A casa pode estar de ponta cabeça, mas o colorido delas sempre obedece a mesma sequência. Outras são momentâneas, afortunadamente.
Faltava pouco para o verão ser oficialmente deflagrado no calendário. Onde vivo faz sol durante quase todo o ano e, logo, ir à praia em janeiro, maio ou novembro dá igual. O ano estava acabando. Entrei no carro numa terça-feira pela manhã em direção a um recanto mais tranquilo do litoral.
Coqueirais, parada, pés descalços, passos. Nova parada, encantamento, reflexão e volto a andar. Pouca gente com tempo livre no meio da semana feito eu. Na minha casa não gosto de nada que um dia já abrigou vida. Conchas e afins não passam da porta. Mais um cacuete. Mas naquele dia havia muitas pedras no chão. Pequenas rochas iluminadas pela luz da manhã.
Ser pedra, como já disse o Manoel de Barros, possui vantagens. Elas irritam o silêncio dos insetos e são batidas de luar nas solitudes. Acredito também nos simbolismos originários das pedras, no ar de contemplação que carregam.
Podem ser chutadas pelos menos sensíveis ou escolhidas a dedo. Naquele dia eu, que tinha algumas pelo caminho, acariciei, lavei com zelo em água salgada e carreguei comigo. Guardei-as no carro até hoje. 26 no total, entre bancas, amarelas e algumas quase rosadas.
Aquele era um dia de despedidas. O último passeio à beira mar antes da chegada do verão. Era também o momento de me livrar de alguns percalços. Obstáculos que deveriam ser simplesmente contornados, mas que pelo fascínio que provocaram foram encarados, destruíram minha segurança e ajudaram a construir um novo ponto de vista.
Não preciso de manias bobas além das que já tenho sem conseguir me livrar de vez. E, definitivamente, essas pedras podem ser encontradas por outros que, assim como eu, devem marcar a hora da descoberta com um ponto final. Sem reticências, o hoje é mais feliz.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
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Um comentário:
Pois é, meu amigo. Nem sempre uma pedra no caminho é só uma pedra no caminho. Às vezes é encontro.
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