Havia tempos que queria ter uma bicicleta. Depois da experiência quando ainda era adolescente tive uma segunda vez já com cabelos brancos. Os fios é que apareceram cedo. Tenho 26 anos de idade e eles já tomam quase metade da minha cabeça. Mas a despeito do que possam parecer depois de tomar emprestada por alguns meses a bike de uma amiga, tomei gosto e resolvi comprar uma.
Percorri um par de lojas, liguei para um amigo que pratica corrida de aventura e entende do riscado, pedi orientação, me assustei com os valores, com a formação de cartel que os vendedores justificam dizendo que o preço é tabelado pelos fabricantes e por fim escolhi a minha. Uma Merida, preta, com 24 marchas e aro 21, ideal pro meu tamanho, já que a altura do meu cavalo é 89,5 centímetros.
No instante em que estava na loja conheci quatro pessoas que pedalam pela cidade, fazem trilha em dias que acordam fora de estrada e saem sempre em grupo. Todas elas se apresentaram, conversaram, pediram meu telefone – e eu dei – e me ligaram em menos de 24 horas pra convidar para algum passeio.
Agradeci e neguei todos os convites. Em geral as pessoas que pedalam me parecem muito carentes. Não tenho falta de amigos e gosto de bancar o sedentário em uma mesa de bar, dividindo cervejas com os mais chegados. Logo, não sirvo para ser atleta e tampouco tenho a disposição de pedalar todos os dias.
Minha bunda ficou toda dolorida depois da primeira hora em cima dela. No dia seguinte foi ainda pior. Ainda bem que inventaram uma tecnologia fantástica que é a de acolchoar as bermudas com espuma feita para roupa de astronauta. Essa, em minha opinião, só perde para a invenção do chuveiro elétrico e, claro, o controle remoto.
Passei a andar em dias intercalados. De quando em vez com um ou dois amigos. Noutras sozinho, ouvindo silêncios ou alguma seleção musical com fones de ouvido. Bons momentos.
Passava das oito da noite quando resolvi largar o penúltimo capítulo da novela pela metade para das umas voltas. O percurso era menor que o habitual pelo nobre motivo do encontro pouco mais de uma hora depois num boteco. Saí de casa com todos os equipamentos de segurança, água, o Ipod, telefone e um molho de chaves.
O vento batia forte no meu rosto no momento em que descia uma avenida larga. Vinha pelo acostamento. Os carros que esperavam o semáforo passaram por mim. Peguei embalo. Isso em ajudaria numa subida logo adiante. Concentração. Quando levantei a cabeça havia um homem encapuzado descendo um morro, vindo em minha direção.
De cara tomei um susto. Não pela arma na mão, mas pela primeira vez tive medo de uma máscara de carnaval. Era tipo um lobisomem, só que com um revólver apontado pra mim. E aos gritos. Logo chegou outro folião pra curtir comigo. Ele mandou e eu obedeci. Desci da bike e lhe estendi. Questionei quando pediu a bolsa. Mas só tem água e as chaves de casa, retruquei. Tire a mochila e vire!
0004-2009-00332. Esse é o número do boletim de ocorrência que fiz depois do episódio. Mais uma vez não vai dar em nada. Na hora nem viatura havia na delegacia mais próxima. E por aquelas bandas, perto do Parque de Natal, como disse o policial que me atendeu: a coisa ta feia. Bandido atira mesmo.
Voltei pra casa com o vento batendo no rosto entristecido. E pensando no conselho que minha mãe me dá e que, seguro, recebeu da sua. Hoje, discordo. Antes mal acompanhado do que só. Com ciclistas obcecados em aumentar o grupo eu só ia ter de tomar um açaí no final da noite e fazer ouvidos mocos ou terapeutizar os mais aflitos.
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2 comentários:
putz, ñ me toquei na hora que vc ligo aqui para ksa perguntando o numero de mainha só estranhei e vc falo e meio que entro e em 1 ouvido e saiu no outro, ai lhe falo e depois me toco... Fico triste por vc, afinal era engraçado ver vc todo animado para andar de bicicleta, principalmente em pirangi. xPP~~
Lamento por você. Sei como é que é. Um beijo fraterno.
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