quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Eu digo, tu reclamas, nós nos apartamos

Estou ocupado. Sem tempo a perder justificando a razão que me leva a escrever. Muitas vezes sobre mim, os que me cercam, sobre minhocas, o céu limpo, os dias de chuva, as impressões do trabalho, a gravidade deformando os corpos, as músicas que não ouço mais e as embalagens de CDs que estão empoeiradas.
Tornar verbo essa miudezas não é uma simples ocupação. A ação me ajuda a entender melhor e a explicar quando as palavras não podem ser ditas pessoalmente. Por isso o único que espero como resposta é que tentem entender. Não sendo possível, que ao menos calem. Seria uma forma de respeito.
Outro dia o meu telefone tocou. Era um número conhecido, mas que já não tinha foto piscando ao lado. Só um nome que soa mal pra minha estrutura de vida. Estava guardado por um desses acasos, que não detalham antecipadamente quem a gente vai encontrar e os desencadeamentos.
Afrontando a minha ideologia, ouvi pacientemente o pedido para que retirasse um texto antigo. Com o apelo, senti do outro lado da linha o medo. E mesmo achando uma agressão, considerei o pedido legítimo.
A gente de quando em vez se agride pensando no outro. Os problemas não eram meus. Pouco me dá se alguém começa ou termina uma relação escrevendo. Ou se faz suas queixas literariamente ou apenas de modo introspectivo. E trata na análise ou desconta no próximo.
Todas as histórias têm princípio, meio, registros, brigas, fotografias guardadas, entrega e incompatibilidades, uma canção marcante e final. Cedo ou outro dia. Ficam as impressões e, em alguns casos, vídeos que mostram o desejo vivo e ajudam a conter os impulsos.

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