terça-feira, 14 de julho de 2009

Voltei a ser criança

Quando se é responsável por algo é que surgem claramente as idéias de zelo e determinação. E isso geralmente só acontece depois dos vinte. Foi com mais ou menos essa idade que escorei sonhos em outra casa, distante da dos meus pais. Tornei-me responsável por ela e, pela primeira vez, por mim, que estava lá dentro sozinho.

Era de aprender a ouvir. Entender outros vocábulos, como dor e fragilidade. Falar é fácil, eu sei, e mais meia leva de gente motivada pela máxima. É algo que sai, por vezes de tão automaticamente que também é quase uma verdade absoluta a ausência de resposta para a pergunta de agora: quem nunca se arrependeu do que disse num impulso?

Brhaaagtheeiiiihhriiiiiist! (Consegue pronunciar?) Esse é um dos sons que minha sobrinha de três meses costuma soltar com uma cara tão amassada num semblante roxo que sempre acho que vai cair no choro. Mas é só uma reclamação. A estrutura, dizem os cientistas, é completa. Certamente ela transforma pensamentos em idéias e sons.

Foi utilizando a ressonância magnética funcional que acadêmicos da Escola de Medicina David Geffen, da Universidade da Califórnia, chegaram à conclusão que o lado esquerdo do cérebro exerce o papel principal no processamento da memória da maioria das funções da linguagem, praticamente desde o nascimento. Essa descoberta já tem mais de quinze anos.

Tentando parecer crescido e razoável, deixo de dizer muita coisa. O ato de fechar a boca pode ser considerado estratégia dos incautos como eu. A velocidade com que as pessoas se comunicam é que me deixa assim, de quando em vez desapercebido e com vontade de parecer vegetado em um algodoeiro. Pensando em escrever absurdez para sentir emancipado feito o Manoel de Barros, que age assim justificando que a absurdez é que faz causa para a poesia.

Na natureza, seria uma imperfeição de dar graça. Mas aquilo, o caminho de areia parecido de uma minhoca não combinava com o piso frio da sala. Na hora de afastar a mesa e desfazer com uma vassoura, veio o movimento brusco. E o primeiro grito, e uma carreira em direção ao quarto e mais um som: aaahgthaaaaeiiiiithaaaaa! Desde pequeno não sofria de topada no dedão.

3 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Uma ótima escolha, pra esta noite minha acolhedora, chuvosa...

Indicaram-me você e confesso ter me surpreendido!

O cotidiano íntimo e externo se mesclam por aqui, tudo de forma poética e sincera!

abraço!

www.apimentario.blogspot.com

www.bonequinhodeluxo.com

tchi disse...

Deve ser um som simpático quando traduzido, po isso, repito-o, esperando que seja motivo para te animar a alma: «aaahgthaaaaeiiiiithaaaaa!»

Beijinhos.

Anônimo disse...

Gostei! Texto engraçado...