Aquela situação era tão ruim quanto imutável. Você sabia antes mesmo de ouvir, mas da minha boca não saiu apenas uma confirmação. São palavras de um homem resignado que aceitou arcar com o ônus da desconfiança indesejada na tentativa de varrer dali uma montanha de detritos. Um homem que quer viver sem expectativas, com combinações. E sabe que pode ser feliz assim.
Já não precisava trocar a roupa da cama, molhada e lavada de tristeza. Por leveza, restava apenas perfumar a casa, ouvir as músicas que só eu sei que são nossas e diluir o tom ora amargo da poesia, lembrando de quando quebrou o condicionador de ar e o calor te fez dormir livre, com roncos, requebros e meneios harmoniosos.
Não é novidade que eu só repouse depois, que te veja da forma mais desprotegida. Mas por uma noite deixei de lado minha metade contemplativa e fui só movimento. Começo cheirando suas orelhas e fungo o cangote, ainda apalpando as costas. De bruços, seu corpo deixa evidente o par de covas que parece sustentar a coluna. Ali, dedico mais tempo.
A mão desce um pouco mais, acaricia as coxas e no meio delas parece querer enfiar o dedo. Sinto a pele lisa, ignorando o atrito. Há apenas mansas curvaturas e meu desejo naquele quarto com pouca luz. E esse é o cenário ideal das minhas promessas.
Adormeço também embriagado, festejando a inobjetividade dos gestos para redescobrir o caminho já escolhido tempos atrás. Ao passar das sete o despertador soa. Ainda não recobrei meu estado de consciência, parece que apaguei de vez e me assusto com um beijo de despedida e solto um sorriso de canto, malemolente.
Hoje acordei brisa. Mesmo com o sangue ainda espalhado dos tragos de ontem. E além de palavras dedicadas te ofereço um punhado de mar pra falar sobre importâncias.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Gostei da maneira como vc escreve. Seus textos falam de cotidianos ora dinâmicos, ora estáticos e nos capturam com a melhor frase de efeito.
Parabéns pelo blog.
Postar um comentário