segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Kika Martinez na LivingFor


Kika Martinez estrela editorial de moda da décima edição da LivingFor. Depois de fazer carreira como apresentadora da MTV, ela tem um novo desafio: comandar entrevistas e reportagens do maior programa de auditório do país, o Domingão do Faustão. No ensaio que poderá ser visto na próxima semana, ela mostra sua faceta de modelo, como tudo começou.


Fotos: Carlo Locatelli
Estilo: Alexia Costa
Beleza: Allan Jhonnes

domingo, 18 de agosto de 2013

Sonora ebulição



Com doze anos de carreira e seis álbuns, a cantora Luiza Possi entrou num mercado em transformação no início dos anos 2000 e enfrentou desafios, como de resto aconteceu com diversos artistas. No Brasil, milhares de quilômetros distante da terra das college radios que difundiram a proposta do R.E.M., o mercado fonográfico do final dos anos 1990 foi marcado pelo jabá e viciou gravadoras então acostumadas a vender cópias de álbuns em volumes de pelo menos seis dígitos.
Registre-se essa informação para entender os motivos de Marcelo Camelo -  antes de se tornar um aclamado compositor - e sua trupe hoje abominarem o primeiro single do homônimo Los Hermanos: “Anna Julia”, a melódica trilha de uma banda que se intitulava hardcore. Pagaram para divulgar a música em rádios por todo o país até que ela foi tocada exaustivamente, grudou e cansou. Foi ali que se abriu o precedente para que as gravadoras deixassem de investir na descoberta do novo e o consumidor tivesse o ouvido destreinado para identificar propostas realmente inovadoras.
Pouco mais de dez anos atrás foi preciso fazer uma revolução na forma de consumir música para não cair no ostracismo do que era entregue pela grande mídia. Reféns também eram os artistas que vinham de uma escola vibrante e encontravam pouco espaço para atuar. Fugindo da condição de vítima, começaram a disponibilizar músicas pela internet, o que só se consolidou apenas há pouco, assim como o hábito do público de procurar pelos blogs os encontros em becos e outros espaços fora do circuito, visitados por músicos alternativos.
O curso é irreversível: na rede surgem promessas musicais que depois de milhares de visualizações e downloads conseguem espaço na TV e nas rádios. Ou, tamanha é a velocidade, as duas coisas acontecem ao mesmo tempo. Não é por acaso que cada vez mais artistas aceitam a exposição de realitys televisivos, como observa Luiza Possi, que já julgou e treinou participantes do Ídolos, da rede Record, e do The Voice Brasil, da Globo.  


“A música sempre foi o primo rico do cinema, da literatura e do teatro, mas isso mudou muito. A indústria fonográfica já chegou a ser a 12ª do Brasil e hoje em dia ela é quase inexistente. Eu lembro que pouco tempo atrás quando um artista falava que era independente, as pessoas olhavam com dó. E hoje ser independente é um luxo. Artista independente se banca, investe onde quer. A carreira tem para onde ir, tem horizonte. Apesar disso muita gente procura espaço na mídia tradicional pra alavancar a carreira. A televisão é o maior canal de exposição para um artista. É onde ele consegue chegar aonde ele não chegaria sozinho. Digo isso por experiência própria: rádio tem um alcance, internet tem outro, mas televisão é ‘o alcance”, analisa.
Os dados do mercado referentes ao ano de 2012 ainda não foram consolidados, normalmente só saem no mês de abril. Mas desde o ano anterior já houve sinais de aquecimento, justamente porque os novos músicos conseguem sair dos guetos e ocupar outros espaços midiáticos que não a internet. A Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) constatou em 2011 um crescimento de 8,4% no faturamento da indústria que chegou a R$ 373,2 milhões. CDs, DVDs e Blu-Rays tiveram 7,6% mais saída e o formato digital foi ampliado em 12,8%.
Aliás, o digital segue sendo a terceira fonte de renda, respondendo por 16%, mesmo que seja percentualmente a metade da média mundial. Os próximos números, porém, podem surpreender, já que a chegada do iTunes, loja virtual da Apple, ao Brasil, aconteceu apenas em meados de dezembro. Não houve um impacto significativo, mas isso deve mudar, haja vista que o download de músicas avulsas teve aumento de 310% na última medição.
“Ter identidade e independência é fundamental para o processo. Nenhuma gravadora diz que acabou o dinheiro. Se o artista depende dela, quando se dá conta já está preso, encalacrado”, ressalta Luiza.

Cheia de hormônios e nada blasé

Foi por isso que Luiza abriu ainda em 2006 seu próprio selo, o LGK Music, tendo apenas a distribuição dos álbuns pela EMI/Som Livre. “Minha gravadora sou eu, mas não estou sozinha. Nem quero essa responsabilidade de ter de decidir todas as coisas. Gosto de contar com pessoas. Apesar de pensar em música pra rádios e pra novela, elas tem de estar dentro do meu universo. Nunca vou gravar algo que seja forçado.”
A cantora compõe e pela primeira vez tem um álbum sem a direção artística do pai, o músico Líber Gadelha, e com a participação da mãe Zizi Possi. “Trabalhei com meu pai até que não deu mais”, fala, sem detalhes, apenas concluindo: “Hoje vejo minha família de um outro ângulo. Eu tenho de honrar minhas raízes e esse dom, que é hereditário, e todas as oportunidades que meus pais me deram.”
Zizi divide uma faixa com Luiza pela primeira vez, no sexto álbum da carreira. E ela argumenta a falta de convite. “Não queria que meu trabalho refletisse o da minha mãe. Ela já tem uma carreira que é linda e eu queria mostrar que podia sozinha.” Poder sozinha é o que ela mostrou desde o início, ainda adolescente. Enquanto Zizi pediu que aguardasse mais “uns três anos” para gravar, ela dispensou os conselhos e se embrenhou num estúdio com orquestra e tudo. “Sempre fui muito independente. Componho quase todas as faixas do meu CD. Meu show é pra cima, dançante. Não estou numa fase Acústica e nem faço o tipo blasé. Não sou dessas, tenho muito hormônio.”
Luiza, ninguém duvidaria dessa ebulição. Sua e de tantos outros irrequietos.   

Matéria publicada na sétima edição da revista LivingFor
Fotos: Ramón Vasconcelos